Existia um rei muito rico, tão rico que esse monarca era invejado por todos os demais reinos existentes em seu redor. Esse rei tinha tudo o que se pudesse imaginar. Terras, muito dinheiro, poder, conforto e centenas de súditos e escravos. Ainda assim, não era uma pessoa feliz.
Um dia, ao andar por seu luxuoso palácio, num determinado instante, cruzou com um de seus servos, que assobiava alegremente, e ao mesmo tempo cantarolava uma música muito alegre, enquanto esfregava o chão com uma vassoura. O rei ficou intrigado: como ele, um soberano supremo do reino, poderia andar tão cabisbaixo, enquanto um humilde servente parecia desfrutar de tanto prazer e felicidade?
- “Por que você está tão feliz?”, perguntou o rei ao servo.
- “Majestade, sou apenas um serviçal. Para passar o tempo, trabalho, e para fazer o meu serviço com muito amor, assim procedo. Canto e assobio para não desviar meu sentido daquilo que estou fazendo. Eu não necessito muito mais do que possuo. Tenho um teto para abrigar minha família, uma comida quente para aquecer nossas barrigas”.
O rei não conseguia entender a felicidade de seu servo. Chamou, então, ao seu gabinete, o conselheiro do reino, a pessoa em que mais confiava, e narrou-lhe o que estava acontecendo. Que não era um homem feliz, apesar de todo seu poder, enquanto seu serviçal demonstrava ser uma pessoa feliz.
“Majestade, creio que o servente não faça parte do Clube 99” respondeu. “Clube 99?
O que é isso?”, perguntou o rei a seu fiel conselheiro.
“Para que vossa majestade possa compreender o que é o Clube 99, ordene ao tesoureiro do reino que deixe num pequeno saco, 99 moedas de ouro na porta da casa do seu fiel servente”. E assim foi feito.
Quando o pobre criado chegou à sua casa e encontrou o saco de moedas na sua porta, ficou radiante. Não podia ser uma realidade! Acreditar em tamanha sorte. Um saco cheio de moedas de ouro. Jamais imaginara tamanha sorte em sua vida. Nem em sonhos tinha visto tanto dinheiro. Esparramou as moedas sobre a mesa e começou a contá-las. “Uma, duas, três, quatro… 96, 97, 98… 99”. Achou estranho ter tão somente 99 moedas de ouro. Pensou que poderia ter perdido uma delas, talvez. Provavelmente, eram 100. Voltou a recontá-las de novo e nada. Eram 99.
Procurou por debaixo da mesa e nada. Refez o caminho de sua casa ao palácio e nada encontrou. Procurou, procurou e nada! Eram tão somente 99 moedas. Por algum motivo, aquela moeda que faltava ganhou uma súbita importância. Com apenas mais uma moeda de ouro, uma só, ele completaria 100. Um número de 3 dígitos! Uma fortuna de verdade.
Ficou obcecado por completar seu recente patrimônio com a moeda que faltava. Decidiu que faria o que fosse preciso para conseguir mais uma moeda de ouro. Trabalharia dia e noite, se preciso fosse. Afinal, estava muito, muito, muito, perto de ter uma fortuna de 100 moedas de ouro. Seria um homem rico, com 100 moedas de ouro.
Daquele dia em diante, a vida do servente mudou. Passava o tempo todo pensando em como ganhar uma moeda de ouro. Estava sempre cansado e resmungando pelos cantos. Tinha pouca paciência com a família. Seus serviços, outrora, quase que perfeitos passaram por um desleixo. A desídia tomou conta e seu contentamento do passado, inexplicavelmente desaparecera. Só pensava em como e o que era preciso fazer para conseguir a centésima moeda de ouro. Parou de assobiar, cantarolar e a felicidade desapareceu de seu semblante, enquanto varria o chão.
O rei, percebendo a mudança súbita de comportamento de seu serviçal, chamou novamente o seu conselheiro ao escritório do palácio e narrou-lhe a mudança comportamental de seu súdito.
“Majestade, agora o servente faz, oficialmente, parte do Clube 99”. E continuou: “O Clube 99 é formado por pessoas que têm o suficiente para serem felizes, mas mesmo assim não estão satisfeitas. Estão constantemente correndo atrás dessa moeda que lhes falta. Vivem repetindo que se tivessem apenas essa última e pequena coisa que lhes falta, aí sim, poderiam ser felizes de verdade.
Majestade, na realidade é preciso muito pouco para ser feliz. Porém, no momento em que ganhamos algo maior ou melhor, imediatamente surge a sensação de que poderíamos ter mais. Com um pouco mais, acreditamos que haveria de fato, uma grande mudança. Só um pouco mais. Com isso, perdemos o sono, nossa alegria, nossa paz e machucamos as pessoas mais queridas que estão a nossa volta.
E o pouco mais, sempre vira… um pouco mais. O pouco mais é o preço do nosso desejo.” E concluiu: – “Isso, majestade, é o Clube dos 99”. Assim é a vida. Quanto mais temos, mais queremos ter. Nunca estamos satisfeitos com o que temos e possuímos.
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