Jesus saiu caminhando, quando veio alguém correndo, caiu de joelhos diante dele e perguntou: «Bom Mestre, que devo fazer para ganhar a vida eterna?». Disse Jesus: «Por que me chamas de bom? Só Deus é bom, e mais ninguém. Conheces os mandamentos: não matarás, não cometerás adultério, não roubarás, não levantarás falso testemunho, não prejudicarás ninguém, honra teu pai e tua mãe!». Ele então respondeu: «Mestre, tudo isso eu tenho observado desde a minha juventude». Jesus, olhando bem para ele, com amor lhe disse: «Só te falta uma coisa: vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me». Ao ouvir isso, ele ficou pesaroso por causa desta palavra e foi embora cheio de tristeza, pois possuía muitos bens.
“...tudo isso eu tenho observado desde a minha juventude». Jesus, olhando bem para ele, com amor lhe disse: «Só te falta uma coisa:...”
Uma pessoa vem até Jesus e fala “tudo isto tenho observado...” E Jesus fala: “te falta uma coisa...”
Interessante: um fala “tudo” e Jesus fala “quase tudo – falta uma coisa”.
Penso: será que nós também não temos situação semelhante, na nossa caminhada espiritual, quando parece que já fizemos tudo? Ou talvez nós mesmos consideremos que “tudo” que tinha que ser feito já foi feito...
Jesus nos olha e diz: “ainda falta uma coisa...”
No caso desta pessoa do Evangelho de hoje, a coisa que Jesus aponta que faltava era o cerne da questão da vida daquela pessoa – a pessoa tinha feito quase tudo; no entanto, o fundamental, o principal, o crucial, ele não tinha feito.
Era como se Jesus tivesse dito: “ao invés de fazer tudo isto, faça somente o que vou lhe dizer agora:... vai, vendes o que tens, dá aos pobres...”
Não quero pautar a mensagem, o conteúdo do que Jesus falou à esta pessoa, mas o que eu quero chamar atenção é que na vida espiritual, na caminhada cristã, temos que estar abertos à docilidade do Espírito, ao silêncio que fala, para quem saber ouvirmos o que realmente precisamos fazer.
Este é o perigo da vida cristã, da vida espiritual – caminhar, fazer, executar, enfim, ocupar-se de tantas e tantas coisas, que na minha opinião são importantes, e deixar de fazer o essencial, o que realmente importa, o que seria o cerne da minha vida, o que estou necessitando fazer.
Isto é muito comum acontecer e geralmente ocorre por falta de parada, falta de oração, falta de silêncio, falta de retiro...
Vamos fazendo coisas, como que se a missão fosse minha; quando na verdade, somos colaboradores de uma missão que não é nossa, mas é de Jesus.
Não é a toa que um dia Jesus disse: “vinde a mim e tomai sobre vós o meu jugo, que é suave...”
Mas queremos fazer o que achamos que é correto, melhor, estratégico, necessário, etc.. E assim vamos fazendo, caminhando, sem fazer o que Jesus fala: “uma coisa te é fundamental e que falta...”
O que é fundamental, o que falta para eu fazer, que faria de mim um ser mais completo, um ser feliz, um ser único?
É necessário ter coragem para buscar ouvir esta voz interior que nos falará o que é o que realmente importa a mim fazer e fazer.
Esta pessoa que procurou Jesus foi embora, pois embora na opinião dele tivesse fazendo “tudo”, ao descobrir que o essencial ele estava longe de fazer, saiu “triste”.
E foi embora triste, preferindo tristeza a fazer o que realmente importa.
Neste caso, a liberdade dele impede que Deus o obrigue a fazer o que para ele é fundamental – pois Deus respeita a liberdade de cada um.
Portanto, se queremos buscar uma vida em abundância, que só se encontra em Deus, uma vida cristã, temos que ouvir a Deus que nos dirá “falta-te isto:......” E, após ter ouvido, não ir embora triste, mas fazer o que tem que ser feito, e caminhar na paz e na alegria.
Que Deus me dê a graça da coragem para ouvir Tua voz e ouvir dEle o que realmente importa a mim fazer – e que eu faça – para assim deixar de pensar que “faço tudo”, e passe a fazer o que realmente importa. Amém.
Marco Aurélio de Souza
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