Mt. 12,29 – (Disse Jesus) – “Como pode alguém entrar na casa de um homem forte e rouba os seus pertences, se primeiro não o amarrar? Só então poderá roubar a sua casa.”
Ontem, dia 17 de março, sábado, era para eu ler Mc. 12, 24-38, e por erro meu, acabei lendo Mt. 12, 24-38, e deparai-me com o versículo destacado acima, que me chamou atenção e passo a partilhar a minha reflexão.
Jesus faz referência a “homem forte”. Evidente que aqui a palavra “homem” não se aplica a uma pessoa do sexo masculino apenas, mas a qualquer pessoa – homem, mulher, adulto, jovem, criança, idoso – enfim, “homem” no sentido da criação; portanto, a todos, a qualquer um.
Outra observação é que ao falar “homem forte”, embora na parábola refira-se a uma pessoa de porte físico avantajado, para que possamos entender o sentido intrínseco ao que Jesus fala, podemos imaginar como “homem forte” uma pessoa que “está bem”.
O que seria uma pessoa “estar bem”? Podemos pensar em alguém firme na fé, maduro na vida espiritual, nos propósitos, engajado na comunidade, se casado, com casamento indo bem, se trabalhador, indo bem no seu trabalho, se estudante, indo bem nos seus estudos, pessoa equilibrada emocional, psicológica e socialmente falando, envolvido com coisas e amizades boas, bem relacionado; enfim, uma pessoa que se encontra no caminho certo, com boas direções, com bons propósitos, de bem com a vida; portanto, “homem forte”.
Santo Inácio fala da figura do “espírito do mal”, referindo-se a força maligna que impulsiona toda pessoa para desviar-se dos bons propósitos, enganando-a para caminhos que não levam a vida.
Este “mau espírito” está dentro de todos nós, assim como também está o “bom espírito”, que nos conduz para o bem.
E Jesus não vai se referir a alguém que está em maus caminhos, mas Jesus vai referir-se a alguém que está “forte”; portanto, nos bons caminhos.
Jesus fala: como roubá-lo? Como assaltá-lo? Só tem uma alternativa: amarrá-lo... depois sim, toda a sua casa pode ser saqueada.
E ai vem a grande dica de Jesus: “não se deixe amarrar”, pois por mais forte que sejas, ficarás imobilizado, e, mesmo sendo forte, terá toda a sua casa saqueada, pois estás amarrado.
E aí realmente mora o perigo.
Quantas pessoas que estão indo bem, e de repende, se deixam amarrar por algo, por uma situação, por um acontecimento, por uma perda, por um fato, por um desgosto, por uma decepção, por uma traição, por algo que não conseguiu, por alguma coisa, enfim, que o amarra, o prende, o segura, e o impede de continuar seu caminho, e, quando vê, toda a sua casa, ou seja, toda a sua vida, já foi saqueada. O que tinha na sua casa? Encanto, fé, esperança, coragem, determinação, engajamento na comunidade, solidariedade, alegria... tudo lhe foi roubado, à partir do momento que foi amarrada...
A pessoa está indo bem, e algo entra na sua vida, no seu foco, na sua pauta... algo o amarra, o prende, e daí o inimigo rouba-lhe a fé, o amor, a caridade, os princípios, os valores...
Tanta gente boa se perde no crack, na droga, na ganância, no poder... algo entra, e o amarra.
A pessoa era forte, mas amarrada, perde a sua força.
E as amarras não necessariamente ocorrem repentinamente (pode acontecer) – mas pode hoje ser amarrado os pés, depois as mãos, outro dia pode amarrar a boca, e assim, aos poucos, pode ocorrer de ir se imobilizando aquele que era “homem forte”.
Portanto, por mais fortes que possamos ser, e devemos procurar ser, nunca nos descuidemos, pois coisas grandes, e às vezes até coisas pequenas, podem nos amarrar... e, amarrados, somos roubados de nossa felicidade, de nosso encanto interior, e vamos nos enfraquecendo...
Aos jovens, cuidado com as drogas, que amarram pessoas tão boas, e as prendem... Ao demais, cuidado com as bebidas, desejo de poder, status, enriquecimento, consumismo, materialismo, traição, e tantas outras coisas que podem ir nos amarrando, e, quando percebemos, já estamos imobilizados.
Cuidemos contra o inanição espiritual (o desleixo pela oração pessoal diária) pois também vai nos amarrando.
“Só então poderá roubar a sua casa” – Daí é tudo roubado. Rouba-lhe a fé, o desejo de viver, e assim por diante, até morrer... era forte... foi amarrado (ou deixou-se amarrar)... tudo lhe foi roubado...
Esta é a história de tantos, que eram fortes... foi sendo amarrado ou deixando-se amarrar... e lhe foi roubado tudo... e hoje é irreconhecível...
Que o Espírito Santo nos guie, e que nunca, por mais fortes que estejamos, pensemos em “autonomia espiritual”, e façamos diariamente nossa entrega ao Pai amoroso, colocando-nos em suas mãos amorosas, conscientes de nossa dependência do seu amor, afeto, abraço... para que jamais sejamos amarrados... e, como ocorrerá muitas vezes das amarras nos rodearem, que tenhamos sabedoria de nos percebermos sendo amarrados para o quanto antes, tirarmos as amarras e voltarmos ao caminho do Pai que sempre nos aguarda nas estradas da vida que nos assaltam.
Amém!
(Marco Aurélio de Souza)
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