Evangelho (Lc 16,19ss): Havia um homem rico, que se vestia com roupas finas e elegantes e dava festas esplêndidas todos os dias. Um pobre, chamado Lázaro, cheio de feridas, ficava sentado no chão junto à porta do rico. Queria matar a fome com as sobras que caíam da mesa do rico, mas, em vez disso, os cães vinham lamber suas feridas.
“Lázaro, cheio de feridas, ficava sentado no chão junto à porta do rico.”
Não obstante alguns falarem que esta parábola fala de céu e inferno e que quem sofreu na terra, gozará no céu, e quem gozou na terra, sofrerá no inferno, sem ir para esta discussão, fico preso nesta frase “Lázaro, cheio de feridas, ficava sentado no chão junto à porta do rico.”.
A realidade descrita é: existe um rico que tem tudo e um pobre que nada tem. Detalhe: este pobre, cheio de feridas, está sentado (não em pé) no chão (lugar mais baixo) junto à (próximo, perto) porta do rico (do lado de fora).
Este pobre tem feridas (marcas sociais).
Esta é uma descrição perfeita de uma sociedade injusta: pessoas com marcas sociais da exclusão e falta de oportunidades, caracterizada aqui como “feridas”. Os cães vem lamber as feridas, mas os cães, porque nenhum ser humano está preocupado com estas feridas. Pelo contrário, esta ferida é causada pelos seres humanos, através de suas ações (ou omissões) no campo político, econômico, social, etc..
Este pobre está no nível mais baixo: no chão, sentado. Sem chances de movimentação, sem oportunidades, sem emprego, sem salário justo, sem um sistema de saúde que lhe garanta a integridade, sem moradia que lhe proteja, enfim, no chão...
No entanto, este pobre está JUNTO do rico. Não adianta querermos maquiar a realidade... Podemos até não ver estes sofredores, mas o evangelho é claro: “estes pobres estão juntos...” Se eu não os enxergo, não é porque eles não existem, mas sim porque EU não os vejo...
E, por fim, estão na porta... do lado de fora... Este pobre está carente de amor, ele é objeto de amor não correspondido. Este amor clama... este amor está, como diz o evangelho, do lado de fora de mim...
Enquanto meu interior não se sintonizar com este objeto de amor externo à mim, o amor não está sendo conjugado (amar é verbo) e fechando-nos em si mesmo, o único fim que este caminho nos leva é um local de total ausência de vida, simbolizado na sede que o homem rico sente, segundo descrição do evangelho. Esta sede só tem uma coisa que pode saciar: o amor.
Que nosso amor se transforme em gestos concretos, diminuindo os “lázaros” da sociedade... sejamos nós, os seres humanos, e não os cães, a limpar as chagas dos feridos socialmente. Amém!
Marco Aurélio de Souza
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