Assim, Jesus ressuscitado, ao aparecer aos apóstolos e não ser reconhecido, para ser reconhecido mostra-lhes as marcas mais profundas da sua paixão: mãos e pés perfurados pelos pregos e o lado perfurado pela lança.
E ainda diz aos apóstolos: “colocai vossas mãos aqui... constatem!”
É interessante que, para “provar” que era Ele mesmo que estava aparecendo, ou seja, para provar que era o próprio Deus que se fazia presente, Ele mostra as marcas da injustiça, as marcas da dor, as marcas do flagelo com que passou nos seus últimos dias.
Claro que Ele poderia fazer outra forma. Poderia multiplicar os pães, curar alguém, enfim, fazer algo que não tivesse dúvida que era Ele mesmo. Mas, chama-me atenção que, o que Ele quer mostrar para provar que Ele era Deus são as marcas da dor, violência, injustiça, ou seja, as marcas do pobre sofredor.
Se quisermos reconhecer Jesus Cristo, temos que ver nEle as marcas do pobre sofredor!
Penso que quando morrermos e tivermos um encontro com Ele pessoalmente, também Ele nos dirá para colocarmos as mãos em suas chagas, em seus sofrimentos, para acreditarmos e termos a certeza que estamos diante do Deus Verdadeiro.
Até aí tudo bem, o duro será se, quando neste encontro pessoal, Ele perguntar: “E suas marcas, onde estão?”
“Mostre-me também as suas marcas de sua luta pela justiça, defesa do pobre...” E eu responder: “não tenho nenhuma marca e mim de defesa do pobre, de luta pela justiça, de ter feito algo que influenciou o mundo para que fosse melhor...”
E daí verificaremos que “a imagem e semelhança de Deus” não estaria perfeita, pois eu não estaria tão parecido com Ele – afinal, Ele tem marcas de sua postura aqui na terra, e eu intacto.
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Ao encontrarmos com Jesus Cristo e olharmos o seu lado, deveríamos ver, imediatamente, os pobres, os drogados, os analfabetos, os desempregados, os favelados, os crucificados pela polícia, os despejados pelo governo, os preteridos pelo poder econômico, etc..
E, teríamos que ver se nesta marca no lado direito de Jesus tem sinais de que eu fiz “curativos” nesta marca, ou seja, que minha vida serviu para defender estes preferidos de Deus.
Caso não tenha estes sinais, a grande pergunta será: “o que eu fiz para ‘fechar’ esta tua ferida?”
Pior será se meu comportamento aqui, minhas ações ainda tiverem contribuído para aumentarem suas marcas, suas chagas, seu lado perfurado.
Por isso, nada contará meus “atos religiosos” feitos durante a vida, e sim o que está descrito no Evangelho de Mateus: “tive fome, e me destes de comer; nú e me vestistes, peregrino e me acolhestes; preso e fostes me ver...” Em outras palavras, neste Evangelho Jesus está dizendo: “meu lado foi aberto pelos injustos e pelo pecado da humanidade, mas você tentou cicatrizá-lo com suas ações em pról dos desfavorecidos – e mais: vejo em seu lado, também marcas semelhantes a minha... Venha para o Reino que sempre esteve preparado para vocês.”
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Queira Deus que minha vida tenha servido para curar-lhe suas feridas, e que meu corpo também tenha marcas, ainda que pequenas, de identificação com a sua causa – Amém.
Marco Aurelio
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