Nos “bons tempos antigos” – como costumam se expressar os saudosistas de um passado que nunca existiu – tudo era mais fácil. Até ser padre! O encarregado da propaganda vocacional chegava na escola do interior, entrava na sala de aula e, depois de pintar com as cores mais vistosas o ambiente que os possíveis candidatos encontrariam na casa de formação, pedia: “Levante a mão quem quer ser padre!” E, uma semana depois, partia o caminhão,carregado de crianças e adolescentes, rumo ao seminário...
Não é fácil falar de pastoral vocacional num momento como o atual, em que a igreja católica passa por uma das suas crises mais agudas. Há pais que se perguntam se não é um crime permitir que seus filhos façam parte de um bando de pedófilos – como são definidos os padres por alguns meios de comunicação. Contudo, os que assim pensam, esquecem que, como em todos os segmentos da sociedade, também a igreja tem os seus santos e os seus pecadores. Esquecem que a imensa maioria do clero luta para viver serenamente a sua vocação, transformando o celibato numa fonte de amor e de doação. Esquecem,por fim, que faz mais barulho uma árvore que cai do que uma floresta que cresce...
Em sua mensagem para o Dia Mundial de Oração pelas Vocações, comemorado no “Domingo do Bom Pastor” – neste ano, dia 25 de abril -, o Papa Bento XVI afirmou que não existe melhor pastoral vocacional do que o exemplo de quem continua dando a sua resposta positiva a Deus e ao povo, como faz a imensa maioria do clero católico: “Para se promover as vocações ao ministério sacerdotal e à vida consagrada e para ser mais forte e incisivo o anúncio vocacional, nada influi mais do que o exemplo daqueles que já disseram o próprio “sim” a Deus e ao projeto de vida que ele tem para cada um.
O chamado é um dom de Deus, que deposita a semente no coração de seus filhos. Contudo, na maioria das vezes, diz o Papa,” Deus se serve do testemunho de sacerdotes fiéis à sua missão para suscitar novas vocações sacerdotais e religiosas a serviço do seu povo”. Poucos meses antes, dirigindo-se a um grupo de sacerdotes italianos, ele expressara a mesma convicção: “ Se os jovens vêem os sacerdotes isolados, tristes e estressados, eles pensam: “ Se esse é o meu futuro, não serve para mim!”. Precisamos, portanto, criar uma comunhão de vida que lhes faça dizer: “Sim, esse caminho pode ser um bom futuro também para mim; desse jeito, dá para viver”.
Somente se forem sustentados por esse clima de autenticidade e de fraternidade os jovens de hoje terão forças para pronunciar o seu “sim” à Deus e à Igreja. Talvez antigamente fosse mais fácil deixar-se levar por motivações que, no ambiente atual, perderia a sua força. Na sociedade hodiema, para seguir a vocação religiosa e sacerdotal, o jovem precisa de mais maturidade e coragem, já que as opções ( e as tentações) são bem maiores que no passado. Foi o que quis dizer o Papa ao lembrar que o padre e o religioso serão sempre “sinais de contradição para o mundo, cuja lógica é inspirada, frequentemente, pelo individualismo.
Mas,além de serem “sinais de contradição para um mundo impregnado materialismo, egoísmo e individualismo”, o sacerdote e o religioso não podem esquecer que carregam esse mundo dentro de si, com todos os seus desafios e fraquezas. Daí a necessidade de uma constante conversão, como disse Bento XVI no dia 15 de abril, em missa celebrada no Vaticano. Somente assim será possível transformar a crise atual da igreja num momento de graça e de renovação. “Ultimamente, nós cristãos, evitamos a palavra “penitência”. Agora, porém, após os ataques do mundo, que falam de nossos pecados, percebemos que é preciso voltar a fazer penitência e reconhecer que há algo de errado em nossa vida”. Para ser luz e fermento no mundo, o cristão (e muito mais o sacerdote) não pode se identificar com ele. “O que impera hoje – continua o Papa- é o conformismo, que obriga a pensar como todos pensam, e agir como todos agem. E esta sutil –ou menos sutil- agressão em vigor contra a igreja demonstra que esse conformismo pode se transformar numa verdadeira ditadura”.
Quem sobreviver a esse “tsunami” que varre e purifica a Igreja, compreênderá que ele foi providencial, porque os padres e religiosos que conseguirem sobreviver, estarão mais conscientes de suas responsabilidades e, por isso mesmo, promotores de novas e verdadeiras vocações. De sua parte, sustentados pelo exemplo de padres felizes porque zelosos, os jovens repetirão com Santo Agostinho, “ Se eles e elas conseguiram, porque não conseguirei também?”
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