“Avança para águas mais profundas, e lançai vossas redes para a pesca”
(Lc 5, 4). É um convite desafiador estendido a todo discípulo de
Jesus, que impõe riscos à vida daquele que se dispuser a avançar para
as águas mais profundas. Estas são desconhecidas, pois não se sabe o
que há no mais profundo das águas oceânicas. É uma realidade que gera
surpresa e causa medo. Os discípulos de Jesus, apesar de não terem
pescado nada durante toda a noite, em atenção à sua palavra lançam as
redes nas águas mais profundas e conseguem obter grande quantidade de
peixe. Só conseguiram porque atenderam ao pedido de Jesus.
O mundo em que vivemos é um grande e vasto oceano. Neste há vários
tipos de peixes e vários mistérios. As águas mais profundas deste
mundo são as realidades sombrias que nos causam medo e nos desafiam a
cada dia. Os seguidores de Jesus, chamados de cristãos, chamados para
“pescar homens”, devem realizar tal pesca nestas águas mais profundas.
Citemos, a fim de compreendermos melhor o sentido destas águas, alguns
lugares, realidades e circunstâncias em que se manifestam a força das
ondas oceânicas da vida: zonas de prostituição, favelas, ruas e
praças, países paupérrimos, fome, violência, discriminação, agressão à
natureza, enfim, o lugar dos empobrecidos e sofredores deste mundo. Os
empobrecidos, com suas realidades e histórias são as águas mais
profundas nas quais o discípulo de Jesus deve lançar as redes para a
pesca.
Avançar para as águas mais profundas é um desafio possível e
necessário, mas para isso precisamos renunciar a tudo o que nos prende
e nos impede. O texto evangélico (Lc 5, 1 – 11) termina com as
seguintes palavras: “Então levaram as redes para a margem, deixaram
tudo e seguiram a Jesus”.
A leitura por vezes equivocada do Evangelho de Jesus está deixando
muita gente nas águas mais rasas e límpidas. Não somos chamados para
ficarmos na beira-mar, sem correr nenhum risco. Até podemos tomar tal
atitude, mas certos de que não é a que Jesus nos pediu. As pessoas que
estão na beira-mar são aquelas que ainda são dominadas pelo medo. É
verdade que este faz parte da condição humana, mas quando se fala de
seguimento de Jesus, o medo que paralisa e aliena torna-se
inaceitável. O medo é incompatível com a missão cristã. Quem se deixa
dominar pelo medo jamais consegue seguir Jesus, pois para isso
precisa-se de coragem e ousadia.
Esta é a vocação de todo ser humano: doar a vida pela vida do mundo, a
fim de que todos creiam na vida trazida por Jesus. Não somos chamados
para pescar almas, pois estas não se pescam! Somos chamados a pescar
homens, pessoas completas, com suas realidades e histórias enraizadas
no mundo dos homens, a fim de que possam viver digna e integralmente
conforme a vontade de Deus.
Somos chamados a responder prontamente a voz daquele que nos chama
para a construção desafiante do Reino. A exemplo do profeta Isaías
digamos a Deus: “Aqui estou! Envia-me” (Is 6, 8).
Saiamos das cavernas escuras.....saiamos das margens límpidas e
rasas...avancemos para águas mais profundas...
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